Até meados do século XVII, o litoral sul da capitania de São Vicente, hoje pertencente ao estado do Paraná, foi esporadicamente visitado por europeus que buscavam madeiras de lei. No período de domínio espanhol, foi estimulado o contato dos vicentinos com a área do rio da Prata e tornou-se mais frequente o percurso da costa meridional, cuja exploração intermitente também seria motivada pela procura de índios e de riquezas minerais. Do litoral os paulistas adentraram-se para oeste, em busca de indígenas, ao mesmo tempo que, a leste, onde hoje estão Paranaguá e Curitiba, dedicaram-se à mineração.
As lendas sobre a existência de grandes jazidas de ouro e prata atraíram à região de Paranaguá numerosos aventureiros. O próprio Salvador Correia de Sá, que em 1613 assumira a superintendência das minas do sul do Brasil, ali esteve durante três meses, enquanto trabalhava com cinco especialistas que fizera vir de Portugal. Não encontrou, porém, nem uma onça de ouro.
Sob o governo do marquês de Barbacena, foi para lá enviado o espanhol Rodrigo Castelo Blanco, grande conhecedor das jazidas do Peru, que em 1680 escreveu ao rei de Portugal para também desiludi-lo de vez sobre a lenda das minas de prata.
No fim do século XVII, abandonados os sonhos de grandes riquezas minerais, prosseguiu a cata do ouro de aluvião, dito “de lavagem”, mediante a qual os escassos habitantes do lugar procuravam recursos para a aquisição de produtos de fora. Os índios que escapavam ao extermínio eram postos na lavoura. Os escravos africanos começaram a ser utilizados no século XVIII e já em 1798 o censo revelava que seu número, em termos relativos, superava o dos índios.
A vila de Paranaguá, criada por uma carta régia de 1648, formou com o seu sertão – os chamados campos de Curitiba, a quase mil metros de altitude – uma só comunidade. Prevaleceu em Paranaguá o cultivo das terras e, nos campos, a criação de gado. Pouco a pouco, Curitiba, elevada a vila em 1693,[24] transformou-se no principal núcleo da comunidade paranaense, e para isso foi fator decisivo a grande estrada do gado que se estabeleceu entre o Rio Grande do Sul e Sorocaba. Castro é o primeiro município verdadeiramente paranaense, a fundação do município ocorreu em 1778.
Em princípio do século XIX, com o recrudescimento da guerra no sul, tornou-se necessária, como parte da estratégia portuguesa, a ocupação das terras que pelo Tratado de Madri pertenciam a Portugal, mas permaneciam abandonadas desde a destruição das missões jesuíticas pelos bandeirantes.
Com o tríplice objetivo de ocupar o território, subjugar os índios e abrir caminho para as missões, em junho de 1810 uma operação militar atingiu os campos de Guarapuava, que logo a seguir foram doados em sesmarias. Os índios capturados foram distribuídos “pelos mais abonados moradores” e três décadas depois a região estava ocupada.
Tratava-se então de conquistar aos indígenas os campos de Palmas, o que foi feito em 1839 por duas sociedades particulares, rivais, que recorreram à arbitragem para evitar choque armado entre seus componentes. Completou-se assim em meados do século XIX, e graças à atividade pastoril, a ocupação dos campos do interior.
Por alvará de 19 de fevereiro de 1811, foi criada a comarca de Paranaguá e Curitiba, pertencente à capitania de São Paulo. A 6 de julho do mesmo ano a câmara municipal de Paranaguá dirigiu-se ao príncipe regente para pedir a emancipação da comarca e a criação de nova capitania. Dez anos depois, o movimento denominado Conjura Separatista, liderado por Floriano Bento Viana, formulou abertamente sua reivindicação separatista, mas ainda sem obter êxito.
Apesar da atividade política expressa em sucessivas diligências e petições que tinham em vista a emancipação político-administrativa, e mesmo após a independência, continuaram os então chamados “parnanguaras” submetidos aos comandantes da tropa local, uma vez que o governo provincial estava longe e desinteressado daquelas terras.
A importância política e estratégica da região avultava com os anos e evidenciava-se com acontecimentos que repercutiram no plano nacional, como a Revolução Farroupilha (1835 – 1845) e a Revolução Liberal de 1842.
Em 29 de maio de 1843, entra em primeira discussão o projeto de lei que elevava a comarca de Curitiba à categoria de província. Durante os debates, destacaram-se os deputados de Minas Gerais e São Paulo. Segundo os deputados paulistas, o verdadeiro motivo da criação da nova província, por desmembramento da Província de São Paulo, seria o de punir esta última por sua participação na Revolta Liberal de 1842.
Paralelamente, a economia paranaense, a par do comércio de gado, ganhava incremento com a exportação da erva-mate nativa para os mercados do Prata e do Chile. Eram feitas promessas de emancipação, enquanto prosseguiam as representações e a luta no Parlamento. Finalmente, a 28 de agosto de 1853 foi aprovado o projeto de criação da província do Paraná, que teria como capital provisória (que depois seria confirmada) o município de Curitiba.
A 19 de dezembro do mesmo ano chegou à capital Zacarias de Góis e Vasconcelos, primeiro presidente da província, que desde logo se empenhou em tomar medidas destinadas a impulsionar a economia local e conseguir recursos para as ações administrativas que se faziam necessárias.
Procurou encaminhar para outras atividades, mormente de lavoura, parte da mão-de-obra e dos capitais que se empregavam no preparo e comércio da erva-mate. O mais lucrativo negócio da província continuava a ser, no entanto, a invernada e a venda de muares para São Paulo. Essa atividade chegou ao ponto mais alto na década de 1860 e só entrou em declínio no final do século.
Durante o período provincial, o governo do Paraná não alcançou a necessária continuidade administrativa, já que a presidência da província, de livre escolha do poder central, teve nada menos de 55 ocupantes em 36 anos. Os liberais paranaenses organizaram-se sob a liderança de Jesuíno Marcondes e seu cunhado Manuel Alves de Araújo, pertencentes à família dos barões de Tibagi e Campos Gerais, na época a mais poderosa oligarquia na região. Os conservadores eram chefiados por Manuel Antônio Guimarães e Manuel Francisco Correia Júnior, de famílias que controlavam o comércio do litoral.
Na segunda metade do século XIX estimulou-se um tipo de colonização orientada para a criação de uma agricultura que suprisse as necessidades de abastecimento. Providências conjuntas dos governos imperial e provincial permitiram o estabelecimento de núcleos coloniais nas proximidades dos centros urbanos, sobretudo no planalto de Curitiba, constituídos de poloneses que se instalaram principalmente na região norte de Curitiba formando bairros como Santa Cândida, Tingui e outros da região, alemães, italianos deram origens a bairros nobres como Santa Felicidade e também a municípios da região metropolitana como São José dos Pinhais e Colombo que foi a maior colônia italiana do Paraná no final do século XIX até o século XX e, em grupos menores, suíços, franceses e ingleses.
Esses contingentes de imigrantes imprimiram à fisionomia étnica do Paraná uma notável variedade e em alguns lugares do Paraná, por exemplo, no município de Castro e arredores se fala somente o holandês e em algumas outras regiões do estado se fala somente o alemão, italiano, ucraniano, polonês e até o japonês sem contar as línguas nativas de tribos indígenas.
O número de escravos diminuiu muito, a partir da metade do século, sobretudo em virtude de venda ou arrendamento para outras províncias. Um relatório do presidente do Paraná, em 1867, assinalou que o imposto arrecadado sobre escravos que seguiam para São Paulo “era quase igual ao imposto sobre animais”.
A vinda de colonos atendia assim ao problema, agravado pela evasão da mão-de-obra escrava, da escassez e carestia dos produtos agrícolas. Nas últimas décadas do século XIX, a construção de estradas de ferro e linhas telegráficas empregou colonos trazidos por sociedades de imigração. Nesse período e no início do século XX, estabeleceram-se no Paraná mais de quarenta núcleos coloniais.
Desde o manifesto de 1870 ocorreram no Paraná manifestações esporádicas, e sem organicidade, de simpatia pela república. Mesmo depois da fundação dos jornais Livre Paraná, em Paranaguá, e A República, em Curitiba, e da criação de clubes republicanos nos dois municípios, o movimento não chegou a se aprofundar.
Alguns paranaenses se destacaram na campanha republicana, mas fora da província. Na Assembleia Provincial, contavam os republicanos com um só deputado, Vicente Machado da Silva Lima, eleito pelo Partido Liberal, e que foi figura de projeção nos primeiros anos do novo regime.
O estado sofreu as consequências das várias crises políticas que marcaram os primeiros tempos da república e somente em abril de 1892 viu promulgada sua constituição estadual, que vigorou até a vitória do movimento revolucionário de 1930. Durante a revolução federalista, o Paraná foi palco de renhidos combates, já que em seu território se deu o encontro de tropas federalistas e legalistas. Abandonado o estado pelos federalistas, fez-se o acerto de contas.
Os “picapaus” assumiram então o poder e desencadearam a repressão contra os “maragatos”. Apesar de eventuais conciliações, tal divisão durou até 1930.
A província do Paraná deveria ter os mesmos limites da antiga comarca, em consequência do que se prolongou até a segunda década do século XX uma complicada questão de fronteiras com Santa Catarina, surgida desde a descoberta e ocupação dos campos de Palmas.
Com base na carta régia de 1749, Santa Catarina considerava seu o “sertão” que correspondia à costa, enquanto o Paraná se apoiava no princípio do uti possidetis. Com a república, ambos os estados exerceriam sua competência de distribuir terras num mesmo território.
Por três vezes Santa Catarina obteve ganho de causa no Supremo Tribunal Federal, mas o Paraná embargou as decisões. Nessa área é que se iria travar a campanha do Contestado. Finalmente, em 1916, por decisão arbitral do presidente da república, fez-se a partilha da região em litígio, com o que ficou encerrada a questão.