Pereiras é um município brasileiro do estado de São Paulo.
Ao analisarmos a chegada dos primeiros povoadores, deparou-se-nos não só o problema da localização das capelas e dos bairros, como também a história da fundação da cidade e a localização de pousos de tropeiros. A existência de imprecisão de datas parece motivada tanto pela morosidade com que eram constituídos e hierarquizados os povoados, quanto pela indeterminação dos poderes atribuídos à Igreja Católica e ao Império. Além do mais, persiste a imprecisão, quando se confrontam as datas com a localização de cidades, em mapas elaborados, no período analisado. Na realidade, há que se levar em conta a relativa importância econômica dos dois principais focos do povoamento, localizados à noroeste do município de Itapetininga, limite dos municípios de Sorocaba, Itu e Porto Feliz, cujos desdobramentos sócio-econômicos tiveram rumos diferentes. Nessa região, os pioneiros vindos de Bragança “fizeram suas posses ao longo do Ribeirão das Conchas e seus afluentes, entre as divisas administrativas do distrito de paz de Tatuí, município de Itapetininga, cujas famílias se localizaram nos vales dos ribeirões, dando origem aos bairros Ribeirão das Conchas, Ribeirão da Várzea, Ribeirão do Moquém e Lageado”. O primeiro foco se expandiu, mais ao norte, à margem esquerda do ribeirão das Conchas, formando o bairro dos Braganceiros, depois denominado bairro do Ribeirão das Conchas. Ali foi erguida uma capela, a capela dos Braganceiros ou capela de N.S. da Conceição do Ribeirão das Conchas, cujas provisões de fundação, ereção e bênção são ignoradas. Caracterizada pela concentração das primeiras posses transformadas em grandes fazendas, cujos proprietários se dedicaram à produção de café e algodão, esta região tornou-se, indiscutivelmente, o mais importante centro econômico da região, com o conseqüente desenvolvimento de uma incipiente indústria marcada pelo beneficiamento do café e descaroçamento do algodão. Lá pelos idos de 1842, disputas e cisão entre os chefes pioneiros deram origem ao segundo foco que se desenvolveu mais ao sul, à margem direita do ribeirão das Conchas. No local onde já funcionava um “Pouso de Tropeiros” secundário, as famílias lideradas pelos Pereiras fundaram uma nova povoação e erigiram uma segunda capela, a capela da Ponte, depois, Capela dos Pereiras. “Apesar de já construída, em 1871, as Provisões de Fundação, Ereção e da Bênção, só foram obtidas em 11 de agosto de 1874”. Como era costume, na época, as capelas recebiam o nome do padroeiro ou padroeira, já identificados pelo nome do bairro, onde eram erigidas. Por uma coincidência interessante, que parece evidenciar a disputa entre as famílias, a mesma padroeira foi escolhida para as duas capelas, sob influência e proteção da igreja católica.
Para atingir São Paulo, as principais rotas seguidas pelas tropas, nas primeiras décadas de 1.800, vinham do sul, passando por Itapetininga e Sorocaba; da província de Mato Grosso, passando por Porto Feliz e Itu; da província de Goiaz, passando por São Carlos e Jundiaí; da província de Minas Gerais, passando por Campos de Toledo e Bragança. A expansão das rotas tropeiras, na região, se intensificou com a criação do município de Botucatu, em 1.855. Desenvolve-se, então, uma rota alternativa, do outro lado do rio Tietê, que seguia para Sorocaba, propiciando a instalação e/ou ampliação de pousos de tropeiros. Botucatu tornou-se tronco importante na concentração de tropas em direção a Sorocaba e São Paulo, pois, já “a partir de 1820, começaram ser divididas as sesmarias delimitadas pelo rio Paranapanema e serra de Botucatu, importante ponto de referência para os caminhantes que demandavam o interior”. A instalação de fazendas, nessa região, chamada, na época, de Zona do Sertão, propiciou a criação do gado; incentivou a produção do café que já migrava do Vale do Paraíba; ampliou o cultivo do milho e arroz, importante para o consumo interno e, sobretudo, expandiu a cultura do algodão, ante a crescente demanda da indústria têxtil inglesa e norte-americana. No auge, pois, desse movimento, a Freguesia dos Pereiras, como importante pouso de tropeiros, passou a ser um importante centro comercial, entre Botucatu e Sorocaba. Entre fins do século XIX e início do século XX, constituía-se num centro de progresso, entre Sorocaba e Botucatu, Tietê e Porto Feliz.. Como prova deste surto de prosperidade, P. Fraletti indica a “ferraria de Adolfo Molitor, onde foram ferrados milhares de burros”. Assim, a Freguesia dos Pereiras permaneceu como sede regional, concentrando o poder político, em conseqüência de sua importância econômica como centro de convergência do comércio de tropas e como importante elo de comunicação entre Botucatu e Sorocaba, as duas mais importantes cidades, no caminho das tropas para São Paulo. Ao mesmo tempo, um incipiente desenvolvimento industrial se concentrava no bairro dos Braganceiros que “chegou a ter mais de 3.000 habitantes”. Segundo C.Prado Jr., a necessidade de concentração na produção é característica das “indústrias agrícolas primárias de transformação, como o beneficiamento do café, o descaroçamento e enfardamento do algodão, a embalagem de frutas cítricas etc.” que, pouco a pouco, vão se transformando em atividades que pertencem a produtores distintos. Esse modelo foi se delineando no bairro dos Braganceiros, com a organização de uma infraestrutura, sobretudo, com máquinas de beneficiamento, para atender à demanda causada pelas plantações de café e algodão. Justamente nesse local, que passou a chamar-se bairro da Estação de Conchas, chegou a Estrada de Ferro Sorocabana, cuja estação foi construída, em 1887.
A partir do final do século XIX, toda a tradição de uma florescente colônia italiana se instalou e deu vida ao Município de Pereiras. Uma das transformações mais sensíveis da população brasileira, afirma N.W. Sodré, "é aquela que se origina do advento da imigração".
Na verdade, o desenvolvimento, a riqueza e o florescimento do município, a partir de um período bem definido, começavam a depender, basicamente, de pequenas propriedades rurais que favoreceram o desenvolvimento de uma pequena indústria e promoveram um comércio em expansão. Seguindo um modelo de aldeia rural, característica de todas as regiões da Itália onde, em fins do século XIX, ainda não havia diversidade entre norte e sul, montava-se, na Freguesia dos Pereiras, uma colônia típica, cujos sitiantes procuravam a vila para contactos sociais e trocas comerciais ou em busca de sal e querosene. Assim, prosperaram chácaras e sítios dos Tangari, dos Foramiglio, dos Valdrighi, dos Turri, dos Nali, dos Magoga, dos Sperandio, dos Alexandrini, dos Gandini e, ainda, Vicente Napo, Luiz Fortunato, Panichi, Tortorelli, Paschoal, Ricci, Paschoalucci, Bonini, Muccini, Pastore (Ah! que saudade da requinta do Sabatino e do violino de Luiz Cardilo)! E mais outros ainda, perdidos na lembrança… Além da localização geográfica e forma de aquisição das propriedades rurais, seria interessante saber como, quando e por que a maioria das “casas de negócio”, tornara-se propriedade dos imigrantes italianos, porquanto, acabaram dominando o comércio da região! A loja dos Venturelli, o armazém dos Fraletti, a padaria dos Felli, a loja dos Cypriani, a alfaiataria do Falchi, o armazém do Tognini, a farmácia de Júlio Salvetti, o bar do Natalino Crispi, o bar do Pieroni, a sapataria do Crispi, a barbearia do Armando Pérsio, a marcenaria dos Perbelini, a fábrica de fogos dos Panebianchi, a serraria dos Fontanelli, o açougue do Zé Sica, os moinhos de Arturo Mazzini e Vicente Fraletti, a olaria dos Marocollo, as oficinas dos Terni e Chipoletti, além de muitos outros que fugiram da memória, eram os numerosos estabelecimentos que se concentravam, principalmente, nas principais ruas da cidade. Além do mais, deve-se uma menção honrosa às mulheres italianas, cujos sobrenomes eram desconhecidos porque adotavam os sobrenomes do marido ou do pai. Marieta, Assunta, Cristina, Silvia, Anina (Sanina), Cleofina, Enriquieta, Mariquinha, Genoveva, Maria, e tantas outras que a memória não guardou. Mulheres que jamais fraquejaram ao se responsabilizar pelos encargos da família e, muitas vezes, devido ao falecimento dos maridos, souberam muito bem assumir e fazer prosperar os negócios. Alguns desses sobrenomes – Marieta Paniche Bonini, Assunta Marini Maurizi, Cristina Maurizi, Anina Cypriani Tognini e Cleofina Cypriani Pieroni – foram apontados em discurso pronunciado por P. Fraletti. Sugestivo artigo intitulado “Comércio em Pereiras, em 1873 e 1899”, mostra que “por esses dados de 1873 e 1899 pode-se avaliar como crescia rapidamente Pereiras”. Tais dados indicam que Pereiras, de fato, demonstrava enorme surto de progresso. Por essa época, já se desenvolvia um comércio comandado por imigrantes italianos, pois em 1906, “O Brasil e os Italianos”, cita o número de imigrantes italianos, distinguindo-se o caso de Pereiras: “Entre 8.000 habitantes, 3.000 eram italianos dedicando à agricultura, ofícios, comércio e indústria. Eram negociantes os senhores Andrea e Vicenzo Pastore, Giovanni Fraletti, Giuseppe Casale, e outros possuidores de grandes capitais, como o senhor Giuseppe Bonini fabricante de cerveja; tijolos etc. Entre os proprietários de terras agrícolas, dignos de nota, senhor Giacomo Bonini.” Na verdade, esse grande desenvolvimento da região coincidiu com a chegada dos imigrantes italianos (1877-1883), pois, com o advento da estrada de ferro e o conseqüente declínio do tropeirismo, a região não chegou a regredir, graças ao sistema de colonização formado por pequenas propriedades. Segundo jornais da época, Pereiras passou por “uma fase de progresso bastante intensa e era uma cidade que rejuvenescia”. Na Freguesia dos Pereiras, integrante da Vila de Tatuí, “em 1886 havia 5.598 habitantes, com 29 eleitores e pertencia ao 4º distrito eleitoral”. Tal prosperidade, aliás, aconteceu em todo território paulista, cuja riqueza crescia nas grandes fazendas de café, para onde os imigrantes convergiram como colonos e de onde iria sair o capital que iniciou o desenvolvimento da indústria paulista. Além de tudo, pareceu-nos interessante saber por que as famílias de imigrantes italianos escolheram, reuniram-se e permaneceram justamente no município de Pereiras, uma vez que, segundo C. Prado Júnior, logo ao desembarcarem em Santos, “eram imediatamente fechados e trancados nos vagões da estrada de ferro”, que os “depositava diretamente no pátio da Hospedaria dos Imigrantes”, onde eram contratados por fazendeiros, proprietários de grandes fazendas, para o trabalho da lavoura do café. Apesar do recém criado Estado Italiano ser fundamentalmente agrário e seus habitantes estarem vinculados a regiões ou aldeias, com vários dialetos e costumes diferenciados, as famílias chegadas a Pereiras permaneceram reunidas, com toda certeza, não só porque a maioria procedia da região de Toscana, na Itália, sobretudo da comuna de Castelnuovo de Garfagnana, mas também porque, muitos de seus elementos eram parentes entre si. O vale do Ribeirão das Conchas era constituído de terras devolutas, que iam do Bairro da Serrinha em Porangaba, até a foz no rio Tietê, no Bairro do Baguari, em Conchas. Por uma dessas coincidências históricas imprevistas, tais terras foram sendo apropriadas, a partir de 1829, por indivíduos oriundos de duas migrações, praticamente ocorridas ao mesmo tempo: os imigrantes procedentes de Bragança e os imigrantes originários da Itália. As posses realizadas pelos braganceiros aparecem com explicações plausíveis. Contudo, como explicar as posses dos imigrantes italianos? Considerando as situações características da época, tudo leva a crer que as lideranças políticas, fundamentadas na legislação vigente e prestigiadas por aqueles que lideravam a política, no Estado, descobriram a forma de conseguir a distribuição das terras devolutas, ainda existentes na região, aos recém-chegados. Hipótese perfeitamente viável, pois, de acordo com C. Prado Júnior, além do sistema de fixação de colonos nas grandes fazendas, havia colônias organizadas segundo o sistema tradicional, isto é, “distribuir aos colonos pequenos lotes de terra agrupados em núcleos”. Como resultado desse agrupamento inusitado, cujos fundamentos fazem parte da história da cidade, instalou-se, em Pereiras, uma comunidade singular, formada por brasileiros e italianos. Da convivência, difícil no início, devido à xenofobia arraigada, à língua diferente e ao choque de costumes estranhos, nasceu e se desenvolveu uma cultura peculiar que, em pouco mais de meio século, acabou resolvendo todos os conflitos, como produto não só da miscigenação, como também da veia artística trazida de uma das regiões mais características do desenvolvimento milenar das artes, onde se incluem Carrara, Luca e Florença. Como em qualquer aldeia italiana, transplantaram-se usos e costumes da tradição camponesa. Juntamente com a comida típica que caracteriza uma família italiana, chega a alegria da música e das danças, no meio de suspiros e saudade, transmitida a todos os descendentes, numa mistura que destruiu definitivamente todos os preconceitos, oriundos das diferenças culturais. Mais ainda, propagou-se uma alegria contagiante que, traduzida na música, com as retretas, no coreto do jardim, da banda musical comandada pelo maestro Sabatino Pastore, começou a encantar a cidade, cujas noites enluaradas tornaram-se mais lindas ainda com as serenatas envolvidas no encantamento dos violinos de Luiz Cardilo, Tono Cypriani e Zico de Nhanhã, no pandeiro de Loro Ricci e nos violões de Jucão e Dorelio, além das músicas de Gastão Pereira e Rafael Paschoal que coloriram os “Festivais Pereirenses de Música Popular”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, M.N. et alii, Brasil em Perspectiva, Difusão Européia do Livro, 1968. FRALETTI, P. História dos Pereiras, publicação da Folha de Conchas, 1949. MORSE, R.M. Formação Histórica de São Paulo, Dif. E. do Livro, 1970. PRADO JR. C, Evolução Política do Brasil e outros Estudos, Brasiliense, 1953.
PUBLICAÇÕES GRANDE ENCICLOPÉDIA – Larousse Cultural, Folha de São Paulo, 1998. HISTÓRIA DO BRASIL, editada pela Folha de São Paulo, 2ª edição, 1997. NOVA ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA, Folha de São Paulo, vols.1 e 2, 1996. BRASIL, 500 anos de povoamento, IBGE, 2000. ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS, IBGE, 1957. SAGA A Grande História do Brasil, Abril, 1981. Mapa do município de Pereiras – IBGE. MUSEU DO IMIGRANTE Informações sobre a chegada de imigrantes italianos, de 1876 a 1904. Mapa das Colonizações
BIBLIOTECA MUNICIPAL Constituição do Estado de São Paulo de 14 de julho de 1891. Lei n. 16 de 13 de novembro de 1891 – Organiza os Municípios do Estado. Lei n. 1038 de 19 de novembro de 1906 – Dispõe sobre a organização municipal. Lei n. 1103 de 26 de novembro de 1907 – Modifica a Lei n. 1038, de 19 de novembro de 1906, sobre a organização municipal e dá outras providências. Lei n. 601 de 18 de setembro de 1850 e o Regulamento n. 1318 de 30 de junho de 1854. Sobre o aproveitamento de terras devolutas e acolhimento e contratação de imigrantes. Resolução Provincial de 30 de março de 1854. Lei n. 83 de 6 de abril de 1887. Lei n. 16 de 16 de novembro de 1891 e Decreto n. 86 de 29 de julho de 1892 Lei n. 8 de 19 de outubro de 1891 Lei n. 485 de 29 de dezembro de 1896 Lei n. 673 de 9 de setembro de 1899. Cartas Topographicas da Província de São Paulo: 1817, de Firmino Didot e J.H. Leonhard. Reeditada em 1858; 1875, de Roberto Hirnschrot; 1875, de R. Habersham e Jules Martin; 1837, de Daniel Pedro Muller;
* 1893, de Arthur H. O'Leary.
Localiza-se a uma latitude 23º04’34” sul e a uma longitude 47º58’33” oeste, estando a uma altitude de 490 metros. Sua população estimada em 2004 era de 7.139 habitantes. Possui uma área de 222,72 km².
Dados do Censo – 2000
População total: 6.226
Densidade demográfica (hab./km²): 28,03
Mortalidade infantil até 1 ano (por mil): 15,46
Expectativa de vida (anos): 71,44
Taxa de fecundidade (filhos por mulher): 2,53
Taxa de alfabetização: 88,62%
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M): 0,777
(Fonte: IPEADATA)